Fiscalização do CREA-RJ presente no Réveillon de Copacabana

Por trás do deslumbrante Réveillon de Copacabana, no Rio de Janeiro, que encanta turistas do Brasil e do mundo, há muita Engenharia. E onde tem Engenharia, a Fiscalização do CREA-RJ está presente. 

A principal função do CREA-RJ é fiscalizar o exercício ilegal das profissões das áreas da Engenharia, Agronomia e Geociências, garantindo a presença de profissionais legalmente habilitados em obras e serviços e evitando a ação de leigos. 

Agentes de fiscalização Kennedy Araújo e Fernando Mendes na Praia de Copacabana, em frente ao Palco Rio
Anotações de Responsabilidade Técnica

No Réveillon de Copacabana, a montagem de três palcos; 10 balsas que abrigam os fogos; torres de luz e som; o show de luzes e o sofisticado espetáculo pirotécnico de 12 minutos de duração demandaram muito trabalho de engenheiras e engenheiros.

“É um evento grandioso, que envolve vários profissionais da Engenharia. Até o momento, foram registradas 41 ARTs (Anotações de Responsabilidade Técnica), de profissionais e empresas. Foram 11 empresas e 16 profissionais envolvidos diretamente nas áreas de engenharia e agronomia. Sem contar a parte de segurança e de infraestrutura que tem nesse grande evento. O CREA-RJ faz uma cobertura muito grande de todos os eventos que ocorrem no Rio de Janeiro. O Réveillon de Copacabana é um evento muito grande, em que todos nós estamos envolvidos. A parte interna e externa da Fiscalização do CREA-RJ está envolvida para que a gente tenha um evento grande, com segurança e, principalmente, coibindo o exercício ilegal da profissão e as atividades do profissional irregular”, afirma o agente de fiscalização Kennedy Araújo.

Palco Samba, em Copacabana

O evento é considerado uma das maiores festas de Ano Novo do mundo, com um público estimado de  2,5 milhões de pessoas. Segundo dados da Prefeitura do Rio de Janeiro, o Réveillon na cidade cria cerca de 50 mil empregos diretos e indiretos e gera um impacto de 3,2 bilhões de reais na economia carioca.

CREA-RJ em ação

“Acho fundamental a fiscalização do CREA-RJ para toda a sociedade, principalmente em eventos com grande participação de profissionais e de pessoas que vão fazer parte do evento. No início da fiscalização do CREA-RJ, a gente percebia que não havia a participação de muitos engenheiros de vários setores da Engenharia e agora isso cresceu, se ampliou. Isso é bom para o trabalho, para a segurança das pessoas, da participação da sociedade e da beleza do evento também. Então, nós temos muito orgulho de fazer parte deste grupo de fiscalização”, finaliza o agente de fiscalização Fernando Mendes. 

 

Palco Leme, na Praia do Leme
Fiscalização de Grandes Eventos

No início do ano, o CREA-RJ instituiu a Equipe de Trabalho de Grandes Eventos,  “O objetivo é analisar e estabelecer parâmetros mínimos para a fiscalização dos grandes eventos do Rio de Janeiro, levando em consideração sua magnitude e localização”, afirma o gerente de fiscalização Cosme Chiniara. 

A ideia é promover uma fiscalização orientativa junto às empresas organizadoras de eventos. “O grande diferencial desta equipe de trabalho é a padronização e apoio que estamos propondo às empresas organizadoras de eventos para que busquem maior garantia e segurança trabalhando com profissionais legalmente habilitados”, ressalta o superintendente técnico Leonardo Dutra. 

A equipe de trabalho foi importante em eventos como o Carnaval, o show da Madonna, o Rock in Rio, o Rock the Mountain e, agora, o Réveillon de Copacabana, fechando o ano com chave de ouro. Ao todo, em 2024 foram realizadas 30.719 ações de fiscalização e emitidas 334 mil ARTs

Pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI) aponta déficit de 75 mil engenheiros no país

O Brasil enfrenta uma crise na formação de novos engenheiros, com um déficit estimado de 75 mil profissionais, aponta a Confederação Nacional da Indústria (CNI). A lacuna revela não apenas a insuficiência de profissionais na área, mas também desafios estruturais e educacionais que limitam o ingresso e a permanência de jovens em cursos de Engenharia.

Dados do Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea) mostram que o país forma cerca de 40 mil engenheiros anualmente, enquanto países do BRICs, como Rússia e China, chegam a formar mais de 450 mil profissionais no mesmo período. Ainda, entre 2014 e 2021, o Brasil perdeu cerca de 150 mil estudantes matriculados em cursos de Engenharia, conforme o levantamento da CNI. 

Essa evasão tem múltiplas causas, como destaca Marcos Gabriel Oliveira de Souza, 24 anos, estudante de Engenharia Mecatrônica na Universidade de Brasília (UnB). 

“Noventa e nove por cento dos meus colegas deixam de ser engenheiros para se tornarem programadores ou buscam concursos públicos em áreas fora da Engenharia. É mais fácil e recompensador a curto prazo. Trabalhar como engenheiro exige muita obstinação ou, muitas vezes, o ‘caminho das pedras’, como ter familiares na área para facilitar o acesso ao mercado.” 

A professora Michelly de Souza, titular do Departamento de Engenharia Elétrica e vice-reitora de Extensão e Atividades Comunitárias da Fundação Inaciana Padre Saboia de Medeiros (FEI), aponta para a crise econômica vivida pelo Brasil entre 2014 e 2021. “A redução de investimentos em infraestrutura e em desenvolvimento tecnológico gerou incertezas quanto às perspectivas de carreira, levando os jovens a optarem por cursos com maior previsibilidade de empregabilidade no curto prazo.” 

Além disso, as deficiências no ensino básico em ciências exatas comprometem a preparação de futuros engenheiros. “Inicialmente, o interesse da criança e do jovem precisa ser despertado de forma lúdica, aguçando a curiosidade e o interesse em resolver problemas reais. O direcionamento diferente deve ser com foco no propósito, e não nos meios para alcançá-lo”, destaca Michelly. 

Atração de jovens 

Para tornar a Engenharia mais atrativa, especialistas defendem uma abordagem integrada entre governo, instituições de ensino e empresas. A ampliação de programas de bolsas de estudo, financiamento estudantil e incentivos fiscais para empresas que investem em programas de estágio são algumas das medidas propostas. 

A superintendente nacional de operações e atendimento do Centro de Integração Empresa-Escola (Ciee), Mônica Vargas, destaca que a agência administra cerca de 9,3 mil estagiários de Engenharia em todo o país. Contudo, para ampliar esse número, o Ciee tem apostado em ações de incentivo desde o ensino médio. 

“Temos empenhado esforços para participar de movimentos e realizar parcerias que possam despertar o interesse do estudante do ensino médio pelas exatas. Um exemplo dessa aproximação é o movimento com as faculdades Poli-USP, FEI, Mackenzie e Mauá, todas em São Paulo. Entendemos que, ao passo desse incentivo, alguns estudantes podem optar por carreiras nas áreas de Matemática, Tecnologia, Engenharia e correlatas”, explica Mônica. 

Apesar dos esforços, a superintendente reconhece que muitos jovens ainda se afastam da Engenharia devido à falta de afinidade com Matemática e ao desconhecimento das múltiplas oportunidades oferecidas pela profissão. “O que precisamos é tornar a aprendizagem da área de exatas mais atraente para os estudantes do Ensino Médio e, como um efeito cascata, aumentar o número de ingressos e conclusões nos cursos de Engenharia. Estamos falando de um processo a médio e longo prazo, por isso é necessário começar o quanto antes”, afirma. 

Mudança curricular 

Para reverter o cenário desanimador da formação em Engenharia no Brasil, Marcos Gabriel defende uma reforma curricular que priorize a prática das atividades. “Temos muitas matérias experimentais, que são matérias antigas, com experimentos antigos, e as aplicações práticas que passam para nós são inúteis na vida real. Não vemos como é a Engenharia, de fato, na prática”, relata o estudante da UnB, que também destaca o mau aproveitamento dos estagiários pelas empresas, muitas vezes, utilizados apenas como “alguém para formatar documentos”. 

A professora Michelly de Souza destaca que a abordagem sugerida por Marcos Gabriel não apenas reforça o vínculo entre a teoria e a prática, como também instiga a curiosidade e o interesse daqueles que estão escolhendo qual curso fazer. “Para que os jovens compreendam essa nova visão da Engenharia, é importante oferecer a eles experiências práticas. Incentivar a participação em projetos de pesquisa desde cedo também estimula a curiosidade e o desenvolvimento de habilidades científicas”, diz. 

Entre as especializações mais demandadas, atualmente, estão Engenharia Civil, Produção, Mecânica, Computação e Elétrica, de acordo com o Ciee. A média de bolsa-auxílio para estagiários nas áreas é de R$ 1.146, acima da média nacional, de R$ 1.108. 

Mônica enfatiza que aumentar a oferta de estágios é uma solução para mitigar o déficit de profissionais. “As empresas precisam abrir mais vagas para cursos de Engenharia. Durante o estágio, temos a oportunidade de preparar esse jovem para o mercado, aumentando as chances de retenção após a graduação”, afirma a superintendente. 

Para Michelly, a retenção de estudantes passa pela criação de um ambiente universitário mais acolhedor, com suporte psicológico e atividades extracurriculares. “É comum que os alunos de Engenharia enfrentem dificuldades nas disciplinas fundamentais, especialmente, nos primeiros semestres, o que pode levar à evasão. Ao proporcionar um ambiente de aprendizagem favorável, com salas de estudo adequadas e recursos tecnológicos, adotando metodologias ativas e oferecendo laboratório equipados com as mais recentes tecnologias, buscamos estimular o engajamento dos alunos, cultivar a resiliência e facilitar a superação dos desafios iniciais”, enumera.

Fonte: Correio Braziliense/ 15 de dezembro de 2024